Macacos me mordam!
Por Ricardo Guimarães de Almeida
Já
há algum tempo estamos acompanhando o aparecimento das doenças
sazonais, vemos todo ano uma peste nova ou repetida que atormenta
nossa harmonia social, tivemos milhares de vítimas de dengue, zika e
chicungunha, apesar do descaso das autoridades, estas doenças
tiveram a incidência reduzidas e não atormentam mais a população
como outrora, mas não dá pra ficar sem nada no lugar e ai então
está lançada a novidade desse verão, a bola da vez é a febre
amarela, uma peste antiga que ressurge em meio rural e urbano e mais
uma vez coloca em risco nossa desprezível existência
individualista.
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Em
todo noticiário o que vemos são as filas quilométricas em postos
de saúde, campanha de vacinação de emergência, pessoas sendo
internadas e morrendo com a suspeita de tal vírus, desespero pela
vacina que leva pessoas buscarem a qualquer custo sua proteção
contra esse mal que supostamente nos ameaça gravemente, e não
estamos sozinhos nessa, macacos também estão morrendo em virtude da
febre, muitos infectados e outros tantos pela ignorância humana,
alguns ignóbeis alienados acreditam estarem se protegendo matando
esses animais que são hospedeiros do vírus silvestre tal como os
humanos.
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Infelizmente
matar macacos não é a única escolha errada que fazem os seres mais
sábios da terra, nossa sociedade consumista não mede suas
consequências, se auto destrói e nunca reconhece a própria culpa,
a própria estupidez, um exemplo é a área morta dos oceanos que vem
crescendo, regiões marinhas onde a vida não é mais possível por
falta de oxigênio em consequência da poluição e outros fatores
que hoje possui extensão de mais de 245 mil quilômetros quadrados,
o equivalente ao território do estado de São Paulo. Isso sem contar
as ilhas de plástico e lixo que flutuam por milhares de quilômetros
em nossos mares provocando mais mortes de animais, sendo um retrato
podre fiel de nossa degradação. Pouca gente se preocupa com o
lixo, mas muitos se preocupam em tomar a vacina e salvar sua própria
vida medíocre, pouco importa se o plástico que acumula por toda
parte vai servir para reprodução de milhares de ovos de mosquitos,
suas propriedades privadas imundas de comodismo não são vistoriadas
em busca de criadouros, afinal não se pode tirar tempo das redes
sociais pra ficar procurando água parada por ai.
Mais
uma vez o maior vilão é o Aedes
aegypti, velho conhecido nosso, que além
da febre transmite um zikão de doenças, e mesmo assim, não temos
políticas públicas que visem controlar esse vetor, vemos nas redes
sociais campanhas de alguns de nossos vereadores que fazem vídeos e
fotos tomando vacina, politicagem baixa e nojenta, estão mais para
auto propaganda do que para as necessidades da população, não
temos o trabalho efetivo, nenhuma força tarefa pra controlar o
mosquito, vemos a população desses mosquitos aumentar, tomar as
cidades, é possível encontrá-los em quase todo lugar, mas o poder
público se omite onde é necessário e exibe fotos tomando vacina
querendo ser exemplo, dizendo que não podem ter privilégios. Ver
notáveis privilegiados usarem de momentos de pânico da população
pra fazer política pregando igualdade é de injuriar qualquer
cidadão que sabe o que é uma vida sem privilégios.
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O
poder público tem sua parcela de culpa, mas temos mais culpados que
inocente ao nosso redor, as pessoas com suas limitações para
compreender o óbvio contribuem para o status quo de forma
determinante, existe uma cultura urbanóide de total aversão a
diversos tipos de animais, é preciso perceber que as pessoas não
matam só macacos, mas também tem o hábito de eliminar diversos
animais. Nossos pares que vivem nas belas e populosas cidades de
pedra e cimento tem o hábito de matar sapos, pererecas, rãs,
aranhas, lagartixas, entre outros, por algum tipo de fobia de causa
inexplicável, uma vez que a maioria desse animais não apresentam
nenhum risco aos humanos, faltando muitas vezes, o entendimento
básico do que é uma cadeia alimentar, onde esses animais aparecem
como predadores dos mosquitos, matando animais que estão do nosso
lado na luta contra o mosquito, provocam o desequilíbrio e o aumento
da população de insetos.
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Enquanto
o pânico se espalha entre a base, o capital sorri, os repelentes não
param nas estantes das farmácias e os preços dispararam, as vacinas
estão esgotadas nas clínicas particulares onde custam entre 150 e
300 reais, imagina quanto está sendo pago pelas mais de 1,7 milhão
de vacinas aplicadas só no estado do Rio, certamente além dos
desvios de verbas, essas vendas movimentam bilhões e um teste ainda
leva 10 dias pra diagnosticar a doença. As informações oficiais
não chegam, as secretarias de saúde não se manifestam de forma
clara, com dados reais e ações locais, as pessoas acreditam no que
ouvem em meio a tanta informação, continuam suas vidas em meio a
alienação, em busca de soluções rápidas para questões
complexas, onde algum consumo será a opção mais fácil pra dormir
tranquilo enquanto mais um homem enriquece e incontáveis animais
padecem.
ONG
COROPÓS
Referências pesquisadas:
http://hojeemdia.com.br/horizontes/vacina-da-febre-amarela-acaba-na-rede-particular-de-belo-horizonte-1.590135_Vacina da febre amarela acaba na rede particular de Belo Horizonte
*Imagens representativas pesquisadas na internet